quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Viciados em açúcar"


Paula Veloso* | 01-02-2012

Há mesmo alguns estudos com ratinhos que sugerem que quando estes animais ingerem grandes quantidades de açúcar os seus cérebros podem sofrer alterações semelhantes às que experimentam as pessoas que dependem de heroína ou cocaína.

O termo poderá parecer exagerado mas, para algumas pessoas, a apetência por doces é tão grande que torna incontrolável a ingestão dos mesmos. Ou seja, mesmo que pense que isso lhe poderá trazer ou agravar problemas de peso ou de saúde e que a sua ingestão tenha como consequência um inevitável sentimento de culpa, é, mais do que um capricho, uma necessidade premente de ingerir doces e por isso muitas vezes comparada com a dependência de drogas. No fundo, ao ter consciência perfeita de que os doces, ou o excesso de açúcar, não devem ser consumidos com frequência pelas consequências que podem ter a nível da saúde, mas não conseguir de todo evitá-lo, será, de certo, uma forma de dependência - a dependência de doces...

Há mesmo alguns estudos com ratinhos que sugerem que quando estes animais ingerem grandes quantidades de açúcar os seus cérebros podem sofrer alterações semelhantes às que experimentam as pessoas que dependem de heroína ou cocaína.

Por isso, a dependência por doces não se define apenas por se pensar frequentemente em comê-los, mas antes por ser uma espécie de compulsão, uma necessidade premente de satisfazer esse desejo rapidamente.

Ao longo de vinte e um anos de prática clínica continuo a constatar que não existe um padrão uniforme de comportamento no que ao consumo de doces diz respeito. Para alguns, basta uma pequena quantidade de açúcar (género rebuçado), para acalmar o desejo. Para outros, é prioritário comer uma vez por dia um bolo ou um pastel de nata como companhia do café.

Outros ainda, dizem-se muito gulosos mas aguentam-se bem até ao fim de semana onde, aí sim, já não resistem a uma fatia de bolo, de pudim, ou congénere. Há ainda os que não resistem ao chocolate, mas enquanto que algumas pessoas ficam satisfeitas com um ou dois quadradinhos, outras acabam por comer o chocolate inteiro quando começam. Há ainda muita gente, incluindo crianças, que não consegue beber água porque se habituou a ingerir refrigerantes e não dispensa o sabor doce nas bebidas, seja às refeições ou fora delas.

O açúcar não é proibido desde que não ultrapasse 10% das calorias diárias, mas é importante saber que não chega contar as colheres de açúcar que temperam o leite, o café ou o chá. Uma lata de 300 ml de refrigerante, com excepção das variantes light, pode conter o equivalente a 5 ou 6 pacotes de açúcar. Um pacotinho de leite com chocolate de 200 ml pode conter cerca de 4 pacotes de açúcar. Ele existe também em muitos preparados alimentares desde molhos, a sopas, enlatados, etc.É por isso muito fácil ultrapassar as quantidades recomendadas sem nos darmos conta disso. Para os viciados em açúcar, o exagero é diário e praticado ao longo dos anos e pode provocar danos graves na saúde de quem o consome.

Consequências do consumo excessivo de açúcar
Embora não sendo um responsável direto pelo aparecimento da diabetes, o aumento de açúcar no sangue obriga a uma libertação de insulina para que o seu valor volte rapidamente ao normal e, sobretudo para quem tem antecedentes diabéticos, a sobrecarga sobre o pâncreas poderá conduzir a uma resistência à insulina, com sintomas semelhantes à diabetes ou mesmo ao aparecimento de diabetes do tipo 2. Devido a esta resposta rápida insulínica para controlar os níveis de glicose no sangue, os alimentos muito açucarados poderão provocar uma sensação de fome mais rápida do que os que têm um teor baixo desta substância.

Uma vez que fornece apenas calorias vazias, ou seja, não fornece ao organismo qualquer outro nutriente, não poderá substituir outros alimentos que contêm na sua constituição proteínas, vitaminas, minerais, hidratos de carbono ou gordura e que são fundamentais à formação e manutenção das estruturas orgânicas. Por isso, a sua utilização será quase sempre para além do necessário e implicará, pelo excesso calórico que provoca, uma aumento gradual do peso.

O consumo excessivo de açúcar está também associado a uma diminuição do sistema imunitário que o associa a doenças infeciosas ou ao aumento dos triglicerídeos no sangue que, tal qual o colesterol, são responsáveis por um maior risco de doenças cardiovasculares.

Conselho: se não prescinde de algum alimento doce no seu dia-a-dia, consulte um nutricionista para que este o possa incluir na sua alimentação diária sem que isso lhe traga graves consequências para o peso e para a saúde. Porque a saúde mental também conta e muito…


* PAULA VELOSO Nutricionista e autora de Dietas sem Dieta e Dieta sem Castigo

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